Cem anos de 22

Escrito por Lucas

17 de março de 2022

Muito se diz que a vida imita a arte. Se isso é verdade, não é de se surpreender que um movimento liderado por jovens artistas tenha mudado os rumos de todo um país e seu povo. Poucos movimentos são capazes de transformações tão profundas. Mas a centenária Semana de Arte Moderna de 1922 – eternizada como Semana de 22 – mantém seu legado na cultura brasileira mesmo um século mais tarde.

Liderado por figuras como Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Heitor Villa-Lobos, entre muitas outras, o movimento ofereceu contribuições radicais na forma e no conteúdo das mais diversas artes. Pintores, escultores, poetas, romancistas, músicos, reuniram-se no, então recém-inaugurado, Theatro Municipal de São Paulo para declamar, expor e tocar o que viria a ser um dos capítulos mais marcantes da nossa história.

reprodução: EBC

Os modernistas, como ficaram conhecidos, propunham uma arte genuinamente brasileira, capaz de adaptar (regurgitar, como diziam) as vanguardas europeias junto dos elementos nacionais. Contrapunham-se ao eurocentrismo e aos padrões naturalistas de uma Europa que julgavam atrasada.

Cartaz/convite para a celebração da Semana de Arte Moderna, 1922 – reprodução: Valor Econômico

Modernismo na arquitetura e design

Das artes plásticas e das letras, logo o movimento expandiu-se e desdobrou-se nos mais diferentes campos. Veio uma revolução estética que impactou inclusive a arquitetura e o design, ramo em que a Novidário atua.

Inicialmente tímida, esta participação foi se fortalecendo com o passar dos anos. Se a “Casa Modernista”, um dos primeiros registros desta arquitetura no país, data de 1930, oito anos pós 22, na década de 40, 50, o Brasil veria o modernismo invadir sua arquitetura de maneira deslumbrante.

As referências extrapolam as dezenas, acumulando nomes conhecidos popularmente, como Lina Bo Bardi, Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Burle Marx e muitos outros. Inúmeros edifícios, praças, parques, calçadas e até cidades, incluindo a capital federal Brasília, foram concebidas sob fortíssima influência do modernismo, deflagrado em terras brasileiras na Semana de 22.

O mobiliário não ficaria de fora da revolução. Coube aos designers tomados pela paixão modernista decorar os vãos e salas que preenchiam os edifícios e casas de concreto armado e linhas retas — marca elementar da arquitetura moderna.

ARQUICadeira desenhada por John Graz. Imagem para matéria sobre móveis modernistas. Foto Instituto John Graz

Dos pioneiros, o suíço John Graz, de quem se vê o cartaz, ocupou o número 488 da nobre Rua Bela Cintra, em São Paulo. Dos mais completos artistas, além de assinar telas, dedicou-se também ao mobiliário. Outro estrangeiro que acabou por radicar-se, viver e morrer em solo brasileiro foi o ucraniano Gregori Warchavchik, a quem é atribuída a Casa Modernista.

A participação de ambos europeus no cenário nacional foi importantíssima, deixando um vasto acervo que serviu de base para a ascensão de toda uma geração de designers brasileiros que viriam mais tarde. Dos mais notórios, Sérgio Rodrigues, falecido em 2014, elevou a movelaria brasileira a outro patamar. A poltrona Mole (1957), obra-prima do designer, ganhou os olhares do mundo inteiro, sendo hoje parte do acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, o MoMA.

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