Foi-se o tempo em que as iniciativas eram desconexas da sociedade. O mundo moderno exige que as inovações levem em conta a urgência de transformar o mundo e a forma como ele se organiza. É de suma importância que os inovadores tenham o bem-estar social em boa conta quando desenvolvem seus projetos, de qualquer ordem.
Frente a tais exigências, o burkinabe Francis Kéré não tem porque se redimir. O arquiteto, nascido em 1965 e radicado em Berlim, atua no ramo desde os anos 80. Engajado nas lutas sociais, visando empoderar comunidades principalmente no seu país de origem, foi reconhecido esse ano com o Prêmio Pritzker, o maior e mais importante da arquitetura mundial.
O prêmio
Desde 1979, a família Pritzker e a Fundação Hyatt concedem aos mais importantes contribuintes à arquitetura mundial, a medalha que leva o nome da família. Anualmente, profissionais do ramo são agraciados com base em uma de suas icônicas obras, e também por toda a trajetória na arquitetura.
Cobiçada, já passou pelo Brasil duas vezes. A primeira em 1988, quando reconheceu Oscar Niemeyer pelo projeto da Catedral de Brasília. Décadas mais tarde, a medalha esteve pela segunda e última vez em solo nacional, quando pertenceu ao arquiteto Paulo Mendes da Rocha, tendo como exemplo a Capela de São Pedro Apóstolo, localizada no município de Campos de Jordão (SP).
A vez de Burkina Faso
Em 2022, foi a vez do Pritzker encontrar o continente africano pela primeira vez. No salão da Escola de Economia e Ciência Política de Londres, Diébédo Francis Kéré teve a honra de pendurar a medalha.
A edição deste ano evidenciou uma guinada que já vinha ocorrendo nos critérios e na cultura da premiação. Acostumada a condecorar celebridades do mundo da arquitetura, provenientes principalmente do primeiro mundo, colocou os holofotes sobre novos paradigmas para a arquitetura mundial.
Um dos trabalhos selecionados pela fundação para exemplificar a obra de Francis Kéré, foi o Escola Primária de Gando, localizado em Burkina Faso. A natureza do projeto já diz muito sobre o trabalho que o escritório Kéré Architecture desenvolve ao redor do mundo. A filosofia passa pela utilização de materiais locais para a construção dos edifícios projetados.
Além da terra, as artes estão presentes nos contextos em que as obras de Kéré afloram. A edição de 2019 do megaevento musical Coachella contou com intervenções projetadas pelo arquiteto.
Leal às suas origens, Kéré pôs-se a trabalhar pelo bem-estar na comunidade de onde saiu. Empregando burkinabes nas obras e projetos, esteve à frente de projetos na Vila de Gando, sudeste da capital de Burkina Faso.
A colaboração com a comunidade renderam não somente uma melhora geral na convivência dos cidadãos locais, mas também o Prêmio Global de Arquitetura Sustentável ao arquiteto, em 2009.
Kéré, aos 56 anos, e sua obra, mais vivos do que nunca, seguem aliados na missão de transformar as vidas por meio da sustentabilidade. Os burkinabes, a arquitetura e o mundo agradecem. E aplaudem de pé.